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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Características da poesia de Ricardo Reis

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.

 “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder  e do destino inelutável.

Próximo de Caeiro, há na sua poesia a aurea mediocritas, o sossego do campo, o fascínio pela natureza onde busca a felicidade relativa.

         Considera que sendo o destino "calmo e inexorável" acima dos próprios deuses, temos necessi­dade do autodomínio, de nos portarmos "altivamente" como "donos de nós-mesmos", construindo o nosso "fado voluntário". Devemos procurar, voluntariamente, submetermo-nos, ainda que só possamos ter a ilusão da liberdade.


Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.


A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.


-   A concepção dos deuses como um ideal humano.

-   As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos.

-   A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens.

Reflete sobre a temática da miséria da condição humana do FATUM (destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo.



CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

-   Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita

-   Verso branco

-   Recurso frequente à aliteração

-   Predomínio da subordinação

-   Sintaxe alatinada,(construção da frase) hipérbatos, apóstrofes

-   Linguagem erudita ( uso de vocabulário rebuscado)

-   Nível de língua cuidado

-   Uso frequente do gerúndio e do imperativo

-   Uso de latinismos ( palavras próprias da língua latina))

-   Metáforas, eufemismos, comparações, imagens




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