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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Poesia de Miguel Torga

Maceração

Pisa os meus versos, Musa insatisfeita!
Nenhum deles te merece.
São frutos acres que não apetece
Comer.
Falta-lhes génio, o sol que amadurece
O que sabe nascer.

Cospe de tédio e nojo
Em cada imagem que te desfigura.
Nega esta rima impura
Que responde de ouvido.
Denuncia estas sílabas contadas,
Vestígios digitais do evadido
Que deixa atrás de si as impressões marcadas.

E corta-me de vez as asas que me deste.
Mandaste-me voar;
E eu tinha um corpo inteiro a recusar
Esse ímpeto celeste.

Miserere Nobis

O que um verso demora!
A esta mesma hora,
Quantos poetas, como eu, à espera!...
Passou o inverno, veio a primavera,
Deitou-se a noite, ergueu-se a madrugada,
E a voz
de todos nós
Cativa na garganta estrangulada!

Nenhum sinal no céu de próximo milagre;
Os adivinhos mal nos adivinham;
E os restantes humanos,
Há infinitos anos
Que apenas tecem
A teia da rotina,
Como o instinto os ensina.

E resta-nos a força
Que empurra os cegos contra a claridade.
Ter confiança é deslaçar metade
Do nó do tempo que o destino aperta.
Suprema descoberta
Doutros que no passado não desesperaram,
E foram premiados, e cantaram.

Mas pesa como um luto
Este silêncio hostil.
E fere como a raiva dum cilício
A certeza da morte
Colada ao corpo.
Que desgraça
Desconhecida,
Se a mudez ultrapassa
A nossa vida!



A Um Negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!


Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!


Mãe

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!













segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Correção teste pelos alunos



1- Segundo o sujeito poético, o ser humano deve viver uma vida segundo as filosofias epicurista e estóica, para que no final da sua vida possa morrer em tranquilidade e não sofra ou faça outros sofrer por ele.
Ao longo do poema, o sujeito poético “ensina-nos” como nos devemos apresentar perante a vida e qual a melhor maneira de viver. Para este, devemos aproveitar a vida, “carpe diem”, mas de uma maneira moderada, “Colhe as flores mas larga-as/ Das mãos mal as olhaste” (vv.15-16), não nos apegando a nada nem a ninguém, seguindo com tranquilidade o nosso percurso e deixar-nos levar pelo nosso Fado.
Quando chegarmos “Na noite e ao fim da estrada” (v.14), ou seja, a nossa vida acabar, “Não tenhas nada na mão” (vv.1-2) e não iremos sofrer, pois não nos apegámos a nada e nada se apegou a nós e “Ao abrirem-te as mãos/ Nada te cairá” (vv.5-6).
Se a única certeza no mundo é a Morte, devemos encará-la da forma mais tranquila possível.



     2. A filosofia de vida que está apontada nas interrogações retóricas é o estoicismo.
      Na primeira interrogação retórica " Que trono te querem dar / Que Átropos to não tire ? " está explícito o despojamento de bens materiais, ou seja, não vale a pena viver uma vida materialista, pois quando chega morte tudo fica na terra; ideia que o tempo passa rapidamente e a morte chega para todos sem exceção.
     Na segunda interrogação retórica " Que louros que não fanem / Nos arbítrios de Minos ? " mostra-se que, independentemente, da glória e da importância que o ser humano teve na terra tudo acaba com o último bater do coração; nascemos para morrer - verdade absoluta que o sujeito poético tem.


Pergunta Nº 2.1
A filosofia presente nos versos onde há interrogações retóricas é o estoicismo.
De acordo com o poema, no geral, há sempre uma ideia de aceitação e de autodisciplina do ser humano perante a morte, daí a filosofia ser o estoicismo. O estoicismo é caracterizado pela autodisciplina e controlo de, nomeadamente, sentimentos, para que mais tarde não se venha a sofrer e não cometer excessos.
Tendo em conta os versos com interrogações retóricas: “Que Átropos to não tire?”(v.8) e “Nos arbítrios de Minos?”(v.10) têm como objectivo mostrar que no céu é diferente do que era na terra, embora continue sempre o Fado (destino) que vai comandar tudo, uma vez que não há nada, nem mesmo os deuses acima do destino.

  Pergunta Nº3
A conceção que está expressa na última estrofe é o carpe diem, ou seja, o sujeito poético tem de aproveitar a vida ao máximo, cada momento, mas sem cair em excessos para no fim não sofrer “Senta-te ao sol. Abdica/E sê rei de ti próprio.”
O carpe diem resulta da perceção da efemeridade da vida, ou seja, a vida passa num instante e quando nos apercebemos, o nosso destino já chegou, que é a morte.


Pergunta Nº4
A poesia de Ricardo Reis é caracterizado por inúmeras particularidades não só do estilo como também de filosofias defendidas.
Duas delas, presentes no poema, são: as referências mitológicas e a linguagem e sintaxes alatinadas.
As referências mitológicas são abordadas de diferentes maneiras em diferentes poemas, mas neste, o neopaganismo está presente em: “Nos arbítrios de Minos?”(v.10). O sujeito poético faz referências mitológicas demonstrando assim o seu neopaganismo e realçando a ideia que devíamos ser como os deuses, embora nem eles estejam acima do Fado.
A outra característica mencionada anteriormente é o frequente uso de sintaxes alatinadas, isto é, como que a inversão de palavras na frase que, de acordo com a semântica, se chama de hipérbatos ou anástrofes. Um exemplo desta característica, no poema em causa, é “Que horas que te não tornem/Da estatura da sombra”(vv.11 e 12).

" No poema é possível encontrar duas caraterísticas de Ricardo Reis ainda não mencionadas, tais como: a sua poesia ser didática como é possível observar na última estrofe onde o sujeito poético nos diz o que devemos fazer, como viver a vida; outra careterística é o facto de, devido a ter tido uma educação clássica baseada na cultura helenista, existirem na sua poesia várias frases alatinadas que levam à existência de hipérbatos que contribuem para o ritmo da sua lúcida e disciplinada escrita, como se constata nas estrofes dois e três.  "


Pergunta Nº5

O episódio do Chafariz, é referente à introdução da história: “Amou”.
Neste episódio vemos um Simão Botelho, já como um herói romântico, uma vez que ele demonstrou ser agressivo e irresponsável, agindo por impulso. O típico herói romântico também é assim, tal como virtuoso e responsável, o que Simão acaba por demonstrar ser episódios mais à frente.
“…convive com os mais famosos perturbadores da academia, e corre de noite as ruas insultando os habitantes…”(ll.3 e 4), demonstrando assim a sua irreverência e irresponsabilidade. Simão é ainda, como um herói romântico de acordo com as características físicas, uma vez que ele é encorpado, bonito e forte,”É forte de compleição; belo homem com as feições de sua mãe”(ll.14 e 15).
Este episódio recai principalmente sobre a sua atitude quando vê um criado a partir, sem intenção, uma vasilha o que o levou a ser espancado. Simão ao ver isto, mostrou-se bravo, corajoso e cheio de força, à semelhança, novamente, de um herói romântico.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018