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segunda-feira, 5 de maio de 2014

MENSAGEM

Este pequeno livro constituído por 44 poemas, possui uma essência épica e encontra-se dividido em 3 partes distintas: BRASÃO, MAR PORTUGUÊS E ENCOBERTO.

   O desafio lançado por Pessoa revela a sua insatisfação com o tempo presente que se vivia em Portugal e de forma megalómana e mística sente-se o arauto de um sonho quase utópico.

Estrutura formal e simbólica de Mensagem

Mensagem é a expressão poética dos mitos – não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual, da construção de uma supra-nação, através da ligação ocidente/oriente: não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam, sendo o assunto de Mensagem a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Daí se interpretem as figuras dos reis nos poemas de Mensagem como heróis mas mais que isso, como símbolos, de diferentes significados.

Integração de Mensagem no universo poético Pessoano:

Integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando o Sebastianismo, o Mito do Encoberto e o V Império.


O poema começa com uma expressão latina ("Bendito o Senhor Nosso Deus que nos deu o sinal"), anunciando logo o sentido messiânico e simbólico.
Cada uma das três partes do poema inicia-se também com uma expressão latina.

1ª Parte – BRASÃO- Bellum sine Bello ( guerra sem guerra): o princípio da nacionalidade (em que fundadores e antepassados criaram a pátria). Sugere pelo jogo dos oxímoros um espaço que, no início, tinha de ser conquistado, pois fazia parte de um desígnio.
Remete também para um tempo heráldico. Esta 1ª parte está subdividida em cinco outras partes correspondentes ao estudo heráldico do escudo ou brasão português: os campos; os castelos, as quinas; a coroa; o timbre.
Faz a valorização dos predestinados que construíram o país. Refere as mães dos fundadores como " antigo seio do império" ou "humano ventre do Império".

2ª Parte- Mar Português- Possessio maris ( posse do mar): traduz o domínio dos mares e a expansão. Aqui, o poeta apresenta a sua visão messiânica da História, onde o sopro criador do sonho implica Deus como causa primeira, o Homem como agente intermediário e a obra como efeito.
Nesta parte, pretende-se simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado para o mar e para o sonho.

3ª Parte- O Encoberto- Pax in excelsis ( paz nos céus): Marcará o Quinto Império. É a mais assumidamente messiânica e sebastianista. O rei sonhador é agora o encoberto, aquele que virá, segundo o Bandarra e o Padre António Vieira, a fazer de novo a Hora, pois o atual Império encontra-se moribundo. mostra a fé que a morte contenha em si o gérmen da ressureição.
O poema termina com um Valete Frates ( felicidades, irmãos), acreditando num desígnio de um reino de fraternidade, graças ao Quinto Império, cujo espírito será moral e civilizacional.


Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir para o reerguer da Pátria, relembrando, nas 1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D.Sebastião, que anunciaria o advento do Quinto Império.

            Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a nível mundial. Esta projeção ficar-se-ia a dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.

            Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em termos materiais, como no tempo de Camões, mas em termos espirituais É nesta nova concepção de Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoana e que, inevitavelmente, destacará a figura deste superpoeta, em detrimento da de Camões.

Pessoa identifica-se com os heróis da Mensagem ou neles se desdobra num processo lírico-dramático. O amor da pátria converte-se numa atitude metafísica, definivel pela decepção do real, por uma loucura consciente. Revivendo a fé no Quinto Império, Pessoa reinventou um razão de ser, um destino para fugir a um quotidiano
absurdo.
           O assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão por cumprir. Portugal é reduzido a um pensamento que descarna e espectraliza as personagens da história nacional.
          A Mensagem é o sonho de um império sem fronteiras nem ocaso. A viagem real é metamorfoseada na busca do “porto sempre por achar”.















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