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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Processo de formação de palavras

Identifica o processo de formação nas palavras assinaladas.


1- O leitor de cd avariou.
2- Hoje comi um belo hambúrger ao almoço.
3- A mini está outra vez na moda.
4- Cada vez há mais impostos: irs, iva, imi...
5- Ainda tens dinheiro no porta-moedas?
6- Sinto que o meu amigo anda a entristecer.
7- É proibido usar o telemóvel nas aulas.
8- Que dia terrível! Os trovões ribombavam, enquanto o vento fustigava as árvores.
9- Parece que o poeta é um ser infeliz.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.


Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Análise

"Fingir" não é o mesmo que "mentir" é a tese defendida. Não há mentira no ato de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir", da racionalização dos sentimentos vividos pelo sujeito poético.

O poema "Isto" apresenta-se como uma espécie de esclarecimento em relação à questão do fingimento poético enunciada em "Autopsicografia" - não há mentira no ato de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir",  da racionalização.  A sensação surge filtrada pela imaginação criadora. 

A comparação presente na 2ª estrofe (vv.6-9) evidencia o facto de a realidade que envolve o sujeito poético ser apenas a "ponte" para "outra coisa": a obra poética, expressão máxima do Belo.

Na 3ª estrofe, introduzida pela expressão "Por isso" de valor conclusivo/ explicativo, o sujeito poético recusa a poesia como expressão imediata das sensações. O sentir, no sentido convencional do termo, é remetido para o leitor.






Autopsicografia

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda 
Que se chama coração


Análise

 Título (O processo psíquico que se opera no poeta no ato da elaboração do texto poético)

                            A teoria do fingimento como processo da criação poética.



O assunto do poema desenvolve-se em três partes lógicas, que correspondem a cada uma das estrofes.

 Primeira parte-  o primeiro verso contém a ideia fundamental do poema, "o poeta é um fingidor", que, logo a seguir, é explicado, ou confirmado, por meio de uma particularização centrada na dor.
 A poesia não está na dor experimentada, ou sentida realmente, mas no fingimento dela. 
Isto é, a dor sentida, a dor real, para se elevar ao plano da arte, tem de ser fingida, imaginada, tem de ser expressa em linguagem poética. Não há poesia, não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de forma a exprimir-se artisticamente, de forma a surgir como um objetivo poético (artístico), de forma a concretizar-se em arte.

 Segunda parte -  o poeta alude à fruição artística da parte do leitor. Este não sente a dor real (inicial), que o poeta sentiu, nem a dor imaginária (dor em imagens) que o poeta imaginou, ao ser artífice do poema, nem a dor que eles (leitores) têm, mas só a que eles não têm. Isto é, o que o leitor sente é uma quarta dor que se liberta do poema, que é interpretado à maneira de cada leitor.

Terceira parte- "E assim" constitui uma espécie de conclusão: o coração (símbolo da sensibilidade) é um comboio de corda sempre a girar nas calhas da roda  para entreter a razão.
Há aqui uma referência à função lúdica da poesia, que começa na fruição de que o próprio poeta goza, no acto da criação artística. O poema torna-se um produto intelectual.
São aqui marcados os dois pólos em que se processa a criação do poema: o coração (as sensações donde o poema nasce) e a razão (a imaginação onde o poema é inventado). Fecha-se neste fim do poema como que um círculo cuja linha limite marca uma pista sem fim em que nunca se esgota a dinâmica do jogo sensação-imaginação.