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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.


Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Análise

"Fingir" não é o mesmo que "mentir" é a tese defendida. Não há mentira no ato de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir", da racionalização dos sentimentos vividos pelo sujeito poético.

O poema "Isto" apresenta-se como uma espécie de esclarecimento em relação à questão do fingimento poético enunciada em "Autopsicografia" - não há mentira no ato de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir",  da racionalização.  A sensação surge filtrada pela imaginação criadora. 

A comparação presente na 2ª estrofe (vv.6-9) evidencia o facto de a realidade que envolve o sujeito poético ser apenas a "ponte" para "outra coisa": a obra poética, expressão máxima do Belo.

Na 3ª estrofe, introduzida pela expressão "Por isso" de valor conclusivo/ explicativo, o sujeito poético recusa a poesia como expressão imediata das sensações. O sentir, no sentido convencional do termo, é remetido para o leitor.






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