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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Memorial do Convento


Algumas Personagens





O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa. 
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido do chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).

Evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.

Era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda. 
A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda).




Domenico Scarlatti

- Italiano, nascido em Nápoles há 35 anos é uma figura completa, rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados.

-Representa a arte que, 
aliada ao sonho, 
permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola.


O Clero
A crítica subjacente a todo o discurso narrativo enfatiza a hipocrisia e a violência dos representantes do espiritualismo convencional, da religiosidade vazia, baseada em rituais que, em vez de elevarem o espírito, originam desregramento, corrupção e degradação moral.

 o papel do clero na Inquisição é uma marca negativa.

O Povo
O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima que construiu, de facto, o convento.



ESPAÇO FÍSICO

São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção: Lisboa e Mafra.

Lisboa, enquanto macro - espaço, integra outros espaços:

TERREIRO DO PAÇO;

ROSSIO;

SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA.


Mafra- Alto da Vela ( local escolhido para a construção do convento)

Ilha da Madeira- Onde começaram por se alojar mil trabalhadores, chegando depois a quatro mil.


                                                                ESPAÇO SOCIAL

O espaço social é construído, na obra, através do relato de determinados momentos (ou episódios) e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o.

Ao nível da construção do espaço social, destacam-se os seguintes momentos: 

PROCISSÃO DA QUARESMA;
AUTOS-DE-FÉ;
A TOURADA;
PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS;
O TRABALHO NO CONVENTO.


Procissão da Quaresma


 Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas - as pessoas comiam e bebiam demasiado, davam "umbigadas pelas esquinas", atiravam água à cara umas das outras, batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas.


 Penitência física e mortificação da alma após os desregramentos durante o Entrudo (é tempo de "mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se”)



Procissão do Corpo de Deus

A procissão do Corpo de Deus, em conjunto com a procissão da quaresma, caracteriza a sociedade em geral.
 
Nos dias que antecedem a procissão do corpo de Deus, as damas vem às janelas mostrar os seus penteados às vizinhas, há pessoas a dançar e a tocar na rua, e também se improvisam touradas.
O povo ao ver todos os preparativos para a procissão do corpo de Deus fica fascinado com a riqueza que esta ostenta.
A cerimónia começa ainda de madrugada com as pessoas a dirigirem-se para ocupar as alas da procissão.
A procissão é enorme!
(24 bandeiras dos ofícios, a imagem de são Jorge, o estandarte do santíssimo sacramento, as comunidades conventuais, o rei e o povo segue a procissão, no final de tudo.)

Ambas as procissões realçam a forma como a população se manifesta-se histericamente e utiliza as festas religiosas para satisfações carnais.
Em particular, durante a procissão da quaresma a população revela o seu gosto por sangue (quando as pessoas se exaltam devido ao som do chicote e a visão do sangue que escorre). Por outro lado, a procissão do corpo de deus mostra uma igreja e um rei fútil, pois o facto da procissão estar cheia de adornos luxuosos não contribui propriamente para a glorificação divina, mas sim, mas a demonstração do monarca e da igreja.


Autos-de-fé (Rossio) 

 O Rossio está novamente cheio de assistência; a população está duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto-de­-fé (passaram dois anos após o último evento deste tipo).

 O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos-de-fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua ironia crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência.



Tourada (Terreiro do Paço)


 O espectáculo começa e o narrador enfatiza a forma como os touros são torturados, exibindo o sangue, as feridas, as "tripas“ ao público que, em exaltação, se liberta de inibições ("os homens em delírio apalpam as mulheres delirantes, e elas esfregam-se por eles sem disfarce” .


ESPAÇO PSICOLÓGICO

O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. 


O sonho – a rainha sonha diversas vezes com o cunhado, D. Francisco. Ao longo do romance, são descritos com alguma insistência os sonhos de diversas personagens, dando conta dos seus mais íntimos desejos, ansiedades e inquietações…
A imaginação – por exemplo, a peregrinação em busca de Baltasar, durante nove anos, Quantas vezes imaginou Blimunda que estando sentada na praça de uma vila, a pedir esmola, um homem se aproximaria… (Cap. XXV)
A memória – Quando Baltasar, por exemplo, relembra o momento em que perdeu a sua mão esquerda na guerra. (VIII)
A reflexão – nomeadamente, a conversa entre a infanta D. Maria Bárbara e sua mãe durante o cortejo nupcial .(XXII)




O TEMPO DIEGÉTICO  (da História)


Trata-se do tempo em que decorre a acção.

O fluir do tempo, mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens e por alguns espaços e objectos ao longo da obra.



As referências cronológicas mais importantes são as seguintes:

A acção inicia-se em 1711. D. João V ainda não fizera vinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara há mais de dois anos da Áustria.


em 1716, tem lugar a bênção da primeira pedra do Convento de Mafra;

em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para trabalhar na passarola do padre Bartolomeu de Gusmão;

em 1719, celebra-se o casamento de D. José com Mariana Vitória e de Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando (VI de Espanha);

em 1730, mais propriamente no dia 22 de Outubro, o dia do quadragésimo primeiro aniversário do rei, realiza-se a sagração do Convento de Mafra;

a acção termina em 1739, no momento em que Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa, num auto-de-fé.



TEMPO DO DISCURSO
A antecipação de alguns acontecimentos serve os seguintes propósitos :

a crítica social - é o caso das prolepses que dão a conhecer as mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D. Pedro, de modo a estabelecer o contraste entre os dois funerais, ou a morte de Álvaro Diogo, que viria a cair de uma parede, durante a construção do convento, assim como a informação sobre os bastardos que o rei iria gerar, filhos das freiras que seduzia;

 a visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador (o tempo da história e, num tempo futuro, o do momento da escrita) - cabem aqui as referências aos cravos (outrora, nas pontas das varas dos capelães; muito mais tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril), a associação entre os possíveis voos da passarola e o facto de os homens terem ido à Lua, no século XX, a alusão ao tipo de diversões que se vivia no século XVII e ao cinema, entre outras.


LINGUAGEM


        O autor utiliza, em maior ou menor grau, o registo de língua familiar e popular com sentido irónico e crítico ou como forma de traduzir o estatuto social das personagens.
Popular: "de boca à banda" 
Familiar: "Meu querido filho, como foi isso, quem te fez isto..." 
Cuidado: "não havendo portanto mediano termo entre a papada pletórica e o pescoço engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro heréctico“

As principais figuras de estilo:
- metáfora
-ironia
-hipálage
-aforismo
-oposições (antonímia)

Formas verbais
- o gerúndio ( para traduzir movimento, duração,…)
- O modo imperativo( como reminiscência da oratória barroca, liga-se à ironia)
 o presente do indicativo( transporta o leitor para o tempo da narrativa)


INTERAÇÃO COM A LÍNGUA PORTUGUESA

Quadras populares: "Aqui me traz minha pena com bastante sobressalto, porque quer voar mais alto, a mais queda se condena".
Contos tradicionais: "Era uma vez uma rainha que vivia com o seu real marido em palácio...".
Luís de Camões, Os Lusíadas: "O homem, bicho da terra" .
Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes: "Estão parados diante do último pano da história de Tobias, aquele onde o amargo fel do peixe restitui a vista ao cego. A amargura é o olhar dos videntes, senhor Domenico Scarlatti,...".
Fernando Pessoa, Mensagem: "Em seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite. solidão, tem aos seus pés o mar novo e as mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o louvará o poeta por ora ainda não nascido... “.
Estilo barroco: "Parece apenas um gracioso jogo de palavras, um brincar com os sentidos que elas têm, como nesta época se usa, sem que extrema mente importe o entendimento ou propositadamente o escurecendo."



Simbolismo

A História, em Memorial do Convento, torna-se matéria simbólica para refletir sobre o presente , na perspetiva da denúncia para dela se extrair uma moralidade que sirva de lição para o futuro


O que representam, na obra, Baltasar e Blimunda?
     Representam a capacidade humana de lutar contra a repressão; a capacidade de libertação de todo um povo oprimido.
     Sete-Sóis e Sete-Luas simbolizam, juntos, uma totalidade e isto por dois motivos:
– porque são Sol e Lua, astros que complementam a unidade do tempo, feito de dia (Sol) e de noite (Lua);
– mas também porque o número sete representa, na simbologia hebraica, a totalidade humana, simultaneamente masculina e feminina.
- criam a passarola da liberdade tal como Ícaro.


Bartolomeu de Gusmão
Representa o ser fragmentário, dividido entre a religião e a alquimia.
Simboliza a aspiração humana
( voo da passarola)  

Scarlatti
Ligado à música simboliza a ascensão de um homem através da música.



Sete – representa a totalidade do universo 
Está presente no nome do par amoroso para representar a harmonia cósmica. 

Nove – representa a gestação, a renovação e o renascimento.

Passarola – é o elo de ligação entre o céu e a Terra, na ânsia da realização e da libertação.

A mãe da pedra - Uma outra situação-acontecimento de cariz mítico constitui-se como a gesta heróica do transporte da pedra gigante de mármore. Anuncia os "trabalhos" fabulosos.



TEMAS

A opulência dos ricos / a extrema pobreza do povo 
«Esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro.»

 A religião repressiva e degradação dos costumes
«entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem.»
«alivia-se a necessidade, na peniqueira ou no ventre das madres»

A plenitude do amor / o casamento de conveniência

Elogio do Sonho/Utopia
A história do sonho de voar, personificado na figura do padre--cientista Bartolomeu Lourenço de Gusmão (poder do sonho e da vontade) 

Ânsia de liberdade/ repressão da Inquisição







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