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terça-feira, 6 de maio de 2014

Mitificação do Herói

                         O Herói  n'Os Lusíadas e na Mensagem


*        Na Mensagem, a história de Portugal obedece a um destino maior do que os próprios destinos que a servem, o destino dos heróis.

*        Ambos os poemas épicos são poemas da ausência – porque cantam “o que foi” (Lusíadas) e o “que pode vir a ser” (Mensagem).

*        Em Camões é mais forte o sentido viril, de ímpeto de realizar, e em Pessoa é predominante o sentido simbólico, de revelar mistérios.

*        Camões, que vê o Império ainda vivo, exalta os heróis para a ação. Pessoa já não tem esperança no Império Material, no Império feito de terras e ouro, mas espera no futuro um Império Espiritual, de cultura e almas, que contém em si heróis de estirpe diferente, homens de outra vontade e erudição.


*      Em Camões, está no mesmo plano a memória e a esperança. Em Pessoa  a esperança  tornou-se  utopia.

*        Os heróis de Camões guiam-se pela bravura, pela missão de fé, pelo risco e pela aventura. São de carne viva. Na obra de Pessoa, os heróis são símbolos, espectros. São conscientes da derrota de ter e perder, revelam um Império já diferente, um Império Imaterial. Em essência os heróis da Mensagem têm uma “atitude contemplativa e expectante”, porque o Império já se cumpriu e agora resta a busca de uma “Índia que não há”. A Mensagem, ocultista, aponta a utopia, que em verdade nunca se cumpre e sempre permanece um horizonte. Em contraste com o realismo d’ Os Lusíadas, o elogio do herói na Mensagem é obscuro e simbólico. Redunda num – usando palavras de Prado Coelho – “elogio da loucura”, ao menos a loucura saudável, a loucura que nos salva de só viver sem pensar. Na Mensagem, Portugal é um instrumento de Deus, a História pátria obedece a um plano oculto, os heróis cumprem um destino que os ultrapassa.

*        Camões exorta um D. Sebastião ainda vivo, ciente que está de um Império que embora em perigo pode ainda sobreviver e renovar-se, enquanto que Pessoa exorta um D. Sebastião morto, feito já mito e esperança.

*        Enquanto Os Lusíadas são a exortação pura, do D. Sebastião presente, da esperança na renovação do Império decadente, a Mensagem é a exortação do mito Sebastianista, do rei morto e agora feito apenas futuro. De facto, Pessoa na Mensagem analisa do mito, o mito extirpado de qualquer vestimenta material e humana.

*        Para Pessoa, o Sebastianismo é a religião nacional, fundada num mito que nos é familiar. O encoberto, figura agora mítica, por encarnar num redentor que se espera. Que Império era este que ainda se esperava, mas que nunca se concretizava? É o Império Espiritual, o Império que não da carne, mas do espírito. Parece descobrir-se que afinal, a busca do Quinto Império, é a própria busca do superior patamar da alma portuguesa. A Mensagem é marcada por um tom messiânico, a profetizar a renovada grandeza da pátria, mediante a instauração do Quinto Império.

*        O Sebastião de Camões é viril e aventureiro, à moda das histórias de cavalaria da época. O Sebastião de Pessoa é já o mito, despido de vestes humanas, humilhado. Há esperança nos Lusíadas, utopia na Mensagem. O que importa na Mensagem é desenvolver um pensamento, uma ordem de pensar o futuro em função do passado.

*        Devemos ver as duas grandes obras da literatura poética portuguesa, Lusíadas e Mensagem, como obras situadas no início e no terminus do grande processo de dissolução do Império.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

MENSAGEM

Este pequeno livro constituído por 44 poemas, possui uma essência épica e encontra-se dividido em 3 partes distintas: BRASÃO, MAR PORTUGUÊS E ENCOBERTO.

   O desafio lançado por Pessoa revela a sua insatisfação com o tempo presente que se vivia em Portugal e de forma megalómana e mística sente-se o arauto de um sonho quase utópico.

Estrutura formal e simbólica de Mensagem

Mensagem é a expressão poética dos mitos – não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual, da construção de uma supra-nação, através da ligação ocidente/oriente: não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam, sendo o assunto de Mensagem a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Daí se interpretem as figuras dos reis nos poemas de Mensagem como heróis mas mais que isso, como símbolos, de diferentes significados.

Integração de Mensagem no universo poético Pessoano:

Integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando o Sebastianismo, o Mito do Encoberto e o V Império.


O poema começa com uma expressão latina ("Bendito o Senhor Nosso Deus que nos deu o sinal"), anunciando logo o sentido messiânico e simbólico.
Cada uma das três partes do poema inicia-se também com uma expressão latina.

1ª Parte – BRASÃO- Bellum sine Bello ( guerra sem guerra): o princípio da nacionalidade (em que fundadores e antepassados criaram a pátria). Sugere pelo jogo dos oxímoros um espaço que, no início, tinha de ser conquistado, pois fazia parte de um desígnio.
Remete também para um tempo heráldico. Esta 1ª parte está subdividida em cinco outras partes correspondentes ao estudo heráldico do escudo ou brasão português: os campos; os castelos, as quinas; a coroa; o timbre.
Faz a valorização dos predestinados que construíram o país. Refere as mães dos fundadores como " antigo seio do império" ou "humano ventre do Império".

2ª Parte- Mar Português- Possessio maris ( posse do mar): traduz o domínio dos mares e a expansão. Aqui, o poeta apresenta a sua visão messiânica da História, onde o sopro criador do sonho implica Deus como causa primeira, o Homem como agente intermediário e a obra como efeito.
Nesta parte, pretende-se simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado para o mar e para o sonho.

3ª Parte- O Encoberto- Pax in excelsis ( paz nos céus): Marcará o Quinto Império. É a mais assumidamente messiânica e sebastianista. O rei sonhador é agora o encoberto, aquele que virá, segundo o Bandarra e o Padre António Vieira, a fazer de novo a Hora, pois o atual Império encontra-se moribundo. mostra a fé que a morte contenha em si o gérmen da ressureição.
O poema termina com um Valete Frates ( felicidades, irmãos), acreditando num desígnio de um reino de fraternidade, graças ao Quinto Império, cujo espírito será moral e civilizacional.


Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir para o reerguer da Pátria, relembrando, nas 1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D.Sebastião, que anunciaria o advento do Quinto Império.

            Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a nível mundial. Esta projeção ficar-se-ia a dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.

            Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em termos materiais, como no tempo de Camões, mas em termos espirituais É nesta nova concepção de Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoana e que, inevitavelmente, destacará a figura deste superpoeta, em detrimento da de Camões.

Pessoa identifica-se com os heróis da Mensagem ou neles se desdobra num processo lírico-dramático. O amor da pátria converte-se numa atitude metafísica, definivel pela decepção do real, por uma loucura consciente. Revivendo a fé no Quinto Império, Pessoa reinventou um razão de ser, um destino para fugir a um quotidiano
absurdo.
           O assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão por cumprir. Portugal é reduzido a um pensamento que descarna e espectraliza as personagens da história nacional.
          A Mensagem é o sonho de um império sem fronteiras nem ocaso. A viagem real é metamorfoseada na busca do “porto sempre por achar”.















terça-feira, 25 de março de 2014

Exercícios de gramática


Não esqueçam que existem mais exercícios neste blogue e estão todos inseridos na etiqueta funcionamento da língua.

A- Delimita e classifica as orações:

1-Se compararmos a superfície de Portugal com a dos outros Estados da Europa, verificaremos que Portugal ocupa a 23ª posição numa lista de 53 países. ( subordinada adv. condicional; subordinante; sub. substantiva completiva)
2- Telefonei-te para pedir ajuda. ( subordinante; subordinada adv. final)
3- Pediram-me para publicar estes exercícios. ( subordinante; subordinada subst. completiva)
4- Perguntaram-nos se tínhamos feito o trabalho. ( subordinante; subordinad subst. completiva)
5- Fiz a pergunta a quem quis. ( subordinante; subordinada subst. relativa s/ antecedente)
6- O sítio onde estamos é bonito. ( subordinante; subordinada adj. relativa restritiva)
7- Comi, todavia não gostei do prato. ( subordinante, coordenada adversativa)
8- Como não gostei, não comi tudo. ( subordinada adv. causal; subordinante)
9- O meu irmão é tão alto como tu. ( subordinante; subordinada adv. comparativa)
10- Fico em casa, pois estou cansado. ( subordinante; coordenada explicativa)
11- Dormi bem, espero pois ter um dia dinâmico. ( subordinante; coordenada conclusiva)

 B- Identifica os processos de formação que deram origem às seguintes palavras destacadas na frase.

1- Compreendi totalmente o que disse.   (derivada sufixação)
2-  Depois do 25 de Abril, este país foi governado pelo FMI. ( sigla)
3- Tirou um mestrado em biofísica. ( composição morfológica)
4- Ele deixou-se enfeitiçar por ela. ( parasíntese)
5- Assistimos à troca de prisioneiros. ( derivação imprópria ou conversão)
6- Antes da existência dos  telemóveis, comprávamos sempre um cartão credifone para telefonar para casa. ( amálgama)
7- Em Lisboa, ando sempre de metro. ( truncação)

C- Identifica a classe e subclasse das palavras da frase.

1- Percebo perfeitamente que não tenhas nenhum livro aqui nesta casa, exceto um.

D- Identifica a função sintática presente na expressão destacada.

1- Ela chora, pobrezinha, achando-se infeliz.   (mod. apositivo)
2- O som da tua voz permanece no ar. ( predicativo do sujeito)
3- O som da tua voz  mora aqui.( compl. oblíquo)
4- O som da tua voz habita o espaço. ( complemento direto)
5- A Joana pediu à Fernanda que lhe enviasse uma mensagem. (compl. direto)
6- Atualmente, os pobres não têm dinheiro para comer. ( modificador)
7- Amai pai e mãe. ( compl. direto)
8- Traz-lhe os livros de português, amanhã, sem falta. ( compl. indireto)
9- Eles levam-nos a Lisboa. ( compl. direto)
10- Trá-lo amanhã, sem falta. ( compl. direto)
11- A ideia de que os sábios nunca se enganam não está correta. ( completo do nome)

E- Identifica os atos ilocutórios.

1- Estudei muito. ( assertivo)
2- Empresto-te o livro para a semana.( compromissivo)
3- Não me apetece nada fazer este teste! ( expressivo)
4- O teste já não se faz ( diz a professora). ( declarativo assertivo )
5- Estuda e logo verás se aumentas a nota. ( diretivo)

F- Identifica os mecanismos de coesão presentes nas frases.

1- Ao senhor Joaquim foi-lhe dito que viesse mais cedo. Ele achou que estavam a gozar com ele.
2- Primeiro, decidiu ir lanchar. Por isso, fez uma sandes de fiambre, embora só tivesse meia fatia.
3- Leu o poema, esse texto de palavras sábias que o soneto ia revelando pouco a pouco.


1- referencial
2- interfrásica
3- lexical

domingo, 9 de março de 2014

O dos Castelos- Análise

– O poema está construído com base numa personificação da Europa, como se se tratasse de um corpo humano.
– A descrição vai-se desenvolvendo do geral para o particular. O sujeito poético refere, logo no início do poema, o tema gerador da descrição – «A Europa» – e apresenta os dois traços definidores: «jaz, posta nos cotovelos» e «fitando». Constate-se que o cotovelo esquerdo se refere à Itália e o direito à Inglaterra (ou sobre elas assentes) países que se sabe serem a base das raízes culturais europeias.
Estes dois traços, jazer e fitar, serão desenvolvidos nas segunda, terceira e quarta estrofes.
– De referir a importância simbólica do olhar e do rosto: enquanto o primeiro tem, por vezes, um poder mágico e misterioso, o segundo encontra-se relacionado com um tipo de linguagem silenciosa.
– O poema assenta em duas imagens contraditórias: uma imagem de lassidão, de dormência transmitida pelo verbo jazer e uma outra de expectância, de movimento, de captação e de compreensão traduzida pelo verbo fitar. Estas duas imagens simbolizam a conjugação do passado com o presente e com o futuro, denunciando a importância de Portugal na construção desse futuro: O Ocidente, futuro do passado.
O olhar é, de resto, o único elemento que parece ter ainda alguma força, perante uma Europa cansada (este cansaço é visível pela posição adoptada). O olhar encontra-se no rosto = Portugal.
– A importância de Portugal, rosto da Europa e, portanto, a face visível de tudo o que ela representa, é posta em relevo pelo final do poema. A organização descritiva inicial do poema, de maior fôlego, vai-se condensando para se apoiar, na parte final, no rosto e no olhar.
– Para Pessoa, Portugal é o ponto extremo ocidental da Europa, é o rosto da Europa que fita o mar ocidental, o seu destino e o seu futuro.
Qual, então, a missão de Portugal? No segundo verso, embora referida indirectamente, é a de ligar o Oriente ao Ocidente, não apenas física mas espiritualmente. Segundo Pessoa, no texto publicado na revista A Águia, trata-se da procura de uma Índia nova.
Neste poema é evidente a crença de Pessoa de que Portugal possui todas as condições (geográficas e experienciais) para partir à descoberta de uma nova Índia, que estará na base do chamado V Império. É o rosto da Europa, o seu cérebro, logo o único país capaz de tal empresa.

Síntese

Plano do Poeta

Considerações e opiniões do autor, expressões nomeadamente no inicio e no fim dos cantos.

Destacam-se os momentos em que o poeta:

Refere aquilo que o homem tem de enfrentar: “os grandes e gravíssimos perigos”, a tormenta e o dano no mar, a guerra e o engano em terra (Canto I, est. 105-106);

Põe em destaque a importância das letras e lamenta que os portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência (Canto V, est. 92-100);

Realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito (Canto VI, est. 95-96);

Faz a apologia da expansão territorial por espalhar a fé cristã. Critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do mundo (Canto VII, est. 2-14);

Lamenta a importância atribuída ao dinheiro, fonte de corrupções e de traições (Canto VIII, est. 96-99);

Explica o significado da Ilha dos Amores (Canto IX, est. 89-92);

Dirige-se a todos aqueles que pretendem atingir a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras que não dão verdadeiro valor ao homem (Canto IX, est. 93-95);

Confessa estar cansado de “cantar a gente surda e endurecida” que não reconhecia nem incentivava as suas qualidades artísticas que reafirma nos seus últimos 4 versos da estrofe 154 do Canto X, ao referir-se ao seu “honesto estudo”, à “longa experiência” e no “engenho”, “causas que raramente”. Reforça a apologia das letras (Canto V, est. 92-100);

Manifesta o seu patriotismo e exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português (Canto X, est. 145-156).

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Classificação de Orações

1. Comi muitos doces, por isso estou indisposto.
2. Ofereci-lhe um livro, se bem que ela tivesse preferido o colar.
3. Ao domingo almoço peru ou peixe assado.
4. O bebé chorava tanto que a mãe lhe deu outro biberão de leite.
5. Como estava muito frio, ficámos em casa.
6. A menina que mora na casa do lado é muito simpática.
7. Ele pediu ajuda a quem passava.
8. O carro, cujo dono é meu vizinho, está avariado.
9. A mãe perguntou se chegas a tempo de jantar.
10.  Assim que chegares, vamos jantar.
11. Pára de falar, pois estou com dores de cabeça.
12. Estudei muito, espero pois um bom resultado.
13. Pedi-te para estudares comigo.
14. Estudei contigo para fazer um bom trabalho.
15. Ela disse-me que tinhas ficado zangada comigo.
16. Sinto-me febril, devo estar engripado.
17. Estou segura de que tens uma grande inteligência.
18. Gosto de quem me trata bem.
19. Caso vás ao supermercado, compra leite.
20. Ele trabalhava mais lentamente que o andar de um caracol.












Soluções

1. coordenada conclusiva.
2. subordinada concessiva.
3. coordenada disjuntiva.
4. subordinada consecutiva.
5. subordinada causal.
6. subordinada adjetiva relativa restritiva.
7. subordinada substantiva relativa.
8. subordinada adjetiva relativa explicativa.
9. subordinada substantiva completiva.
10. subordinada temporal.
11. coordenada explicativa.
12. coordenada conclusiva.
13. subordinada substantiva completiva.
14. subordinada final.
15. subordinada substantiva completiva.
16. coordenada assindética.
17. subordinada substantiva completiva.
18. subordinada substantiva relativa.
19. subordinada condicional.
20. subordinada comparativa.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Texto expositivo-argumentativo

Um texto expositivo-argumentativo deve combinar dois princípios de estruturação:

I – apresentar uma tese, desenvolver justificativas para comprovar essa tese e uma conclusão que dê um
fecho à discussão elaborada no texto, compondo o processo argumentativo.

TESE – É a ideia que  vais defender no teu texto. Ela deve estar relacionada ao tema e deve estar apoiada em argumentos ao longo da redação.

ARGUMENTO – É a justificativa utilizada por ti para convencer o leitor a concordar com a tese defendida. Cada argumento deve responder à pergunta “por quê?” em relação à tese defendida.

II – utilizar estratégias argumentativas para expor o problema discutido no texto e detalhar os argumentos utilizados.

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS – São recursos utilizados para desenvolver os argumentos, de modo a convencer o leitor:
• exemplos;
• dados estatísticos;
• pesquisas;
• factos comprováveis;
• citações ou depoimentos de pessoas especializadas no assunto;
• alusões históricas; e
• comparações entre factos, situações, épocas ou lugares distintos.

EXEMPLO

O Papel da Televisão na Vida dos Jovens


     A televisão tem uma grande influência na formação pessoal e social das crianças e dos jovens. Funciona como um estímulo que condiciona os comportamentos, positiva ou negativamente.
   A televisão difunde programas educativos edificantes, tais como o ZigZag, os documentários sobre Historia, Ciências, informação sobre a atualidade, divulgação de novos produtos…Todavia, a televisão exerce também uma influência negativa, ao exibir modelos, cujas características são inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As suas qualidades físicas são amplificadas, os defeitos esbatidos,criando-se a imagem do herói / heroína perfeitos. Esta construção produz sentimentos de insatisfação do eu consigo mesmo e de menosprezo pelo outro.
    A violência é outro aspeto negativo da televisão, em geral. As crianças e os jovens tendem a imitar os comportamentos violentos dos heróis, o que pode colocar em risco a vida dos mesmos. O mesmo acontece com o visionamento de cenas de sexo. As crianças formam uma imagem distorcida da sua sexualidade,potenciando a prática precoce de sexo e suscitando distúrbios afetivos.
     Em jeito de conclusão, é legítimo que se imponha às estações de televisão uma restrição de exibição de material violento ou desajustado à faixa etária nas suas grelhas de programação, dado que a exposição a este tipo de conteúdos é extremamente prejudicial no desenvolvimento das crianças e dos jovens, pois, tal como diz o povo, “violência só gera violência”.




Funções Sintáticas e Orações

Identifica a função sintática da palavra ou expressão a negrito.

1. Ele ficou em casa. (predicativo do sujeito)
2. Nós dissemos que iríamos ser pontuais. (complemento direto)
3. Os alunos que tiverem boa nota no teste vão receber um prémio (modificador restritivo do nome)
4. Elas concluíram o trabalho rapidamente. (modificador)
5. O vestido foi comprado na semana passada. (predicado)
6. O diretor nomeou-o chefe-adjunto. (predicativo do complemento direto)
7. A oferta de livros foi muito louvável. (complemento do nome)
8. Os meus amigos moram aqui. (complemento oblíquo)
9. Pessoa, esse génio da literatura, era português. (modificador apositivo)



1. Na frase “Gosto dela, mas às vezes farto-me!” oração sublinhada é
a.    subordinada adjetiva restritiva.
b.    coordenada completiva.
c.    subordinada adverbial causal.
d.    coordenada adversativa.

2.    Na frase “Mal acordo, espreguiço-me!”, a oração sublinhada é
a.    subordinada adverbial temporal.
b.    subordinada adverbial causal.
c.    subordinada adverbial comparativa.
d.    subordinada adverbial consecutiva.

3.    A oração sublinhada em “Vou ter a tua casa, a não ser que acabe tarde.” é
a.    subordinada adverbial consecutiva.
b.    subordinada adverbial concessiva.
c.    subordinada adverbial condicional.
d.    subordinada adverbial causal.

4. A oração sublinhada na frase “O João, quando o telefone tocou, deu um salto.” é
a.    subordinante.
b.    subordinada adjetiva explicativa.
c.    subordinada adjetiva completiva.
d.    subordinada copulativa.

5. Em que alínea a conjunção “que” introduz uma oração subordinada causal?
a.    Ela é tão bonita que todos olham para ela.
b.    Mesmo que chegues tarde, vou ficar à tua espera.
c.    Ela disse que tu estavas mal vestida!
d.    Vem comigo, que preciso de ajuda!

6. De entre as frases que se seguem, em que alínea a conjunção “como” introduz uma oração causal?
a.    Ela fala como se mandasse!
b.    Como chegaste tarde, não esperamos para jantar.
c.    O Pedro é alto como uma torre!
d.    A minha mãe cozinha como se fosse um chef de culinária.

7. De entre as frases que se seguem, em que alínea o “como” introduz uma oração subordinada adverbial comparativa?
a.    Como está a chover, vou levar gabardina.
b.    Como o Manuel teve um acidente, vou visitá-lo ao hospital.
c.    Ela era esguia e elegante como (é) uma serpente.
d.    Como me pediste ajuda, aqui tens os meus apontamentos da aula.

8. Das frases que se seguem, em que alínea a conjunção “que” não introduz uma oração subordinada substantiva completiva?
a.    A Marta disse que ia ter ao restaurante.
b.    É lamentável que tenhas dito tanto disparate!
c.    Choveu tanto que me molhei toda!
d.    Penso que tens razão.

9. Em que alínea encontras uma oração subordinada substantiva completiva?
a.    Ela é bonita, mas às vezes é tão antipática!...
b.    Se ganhasse o totoloto, ia de férias!
c.    Apesar de a professora explicar bem a matéria, fiquei com algumas dúvidas.
d.    Perguntei-lhe se queria ir connosco ao cinema.

 10. Classifica a oração sublinhada na frase “Os alunos que terminaram a prova esperaram pelo final do tempo estabelecido.”
a.    Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
b.    Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
c.    Oração subordinada substantiva completiva.
d.    Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente.

11. Classifica a oração sublinhada na frase “O homem, que olhava para ela insistentemente, tinha mau aspeto.”
a.    Oração subordinada adverbial causal.
b.    Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente.
c.    Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
d.    Oração coordenada conclusiva.



Os Cantos d' Os Lusíadas


Os Lusíadas (cliquem aqui e tenham acesso à obra) Lusíadas anotados

CANTO I 

1 - 3 (Proposição): Camões propõe-se a cantar os feitos dos Portugueses.
4 -5 (Invocação): O poeta invoca as Tágides (ninfas do Tejo).
6 - 18 (Dedicatória): O poema é dedicado a D. Sebastião.
19 (Narração): A Armada no Oceano Índico.
20 - 41: Os Deuses discutem no Olimpo. Júpiter e Vénus apoiam os Portugueses, e Baco opõe-se. Marte apoia Vénus.
42 - 99: A Armada em Moçambique. Vasco da Gama recebe o regedor e este último, incitado por Baco, ataca os Portugueses, mas é vencido. Mostra-se arrependido e oferece um falso piloto ao Gama.
100 - 102: O falso piloto dirige as naus para Quiloa, mas Vénus afasta os Portugueses do perigo de uma emboscada.
103 - 104: Chegada a Mombaça.
105 - 106: Considerações sobre a insegurança e as falsidades da vida. 

CANTO II 

1 - 28: O rei de Mombaça, mandado por Baco, tenta destruir a Armada Portuguesa atraindo-a ao porto. Vénus pede ajuda às Nereidas e estas afastam as naus. O falso piloto e os mouros julgam ter sido descobertos e fogem.
29 - 32: Vasco da Gama apercebe-se da cilada e pede a deus que o ajude a chegar à Índia.
33 - 63: Vénus pede a Júpiter que ajude os Portugueses. Júpiter concorda e profetiza-lhes sucesso. Mercúrio aparece em sonhos ao Gama e diz-lhe para seguir viagem.
64 - 71: Partida de Mombaça. Os Portugueses capturam um navio e os mouros levam-nos a Melinde.
72 - 91: Recepção festiva em Melinde.
92 - 113: O rei de Melinde visita a Armada e pede ao Gama que lhe conte a história de Portugal.

CANTO III 

1 - 2: Invocação de Camões a Calíope.
3 - 5: O Gama resume ao rei de Melinde o que lhe vai contar: terras, gentes e feitos de armas.
6 - 21: Situação geográfica da Europa e de Portugal
22 - 98: Viriato, Conde D. Henrique, reis de Portugal (de D. Afonso Henriques a D. Dinis), Egas Moniz, guerras da Reconquista, Batalha de Ourique.
99 - 135: D. Afonso VI, Batalha do Salado, episódios Líricos de Inês e da formosíssima Maria.
136 - 143: Reinados de D. Pedro e D. Fernando.

CANTO IV 

1 - 50: Mestre de Avis como rei de Portugal, discurso de Nun'Álvares, Batalha de Aljubarrota, conquista de Ceuta.
51 - 65: Reinados de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II.
66 - 93: Reinado de D. Manuel. Sonho do rei em que aparecem os rios Ganges e Indo a profetizar o sucesso dos Portugueses na Índia. A Armada parte de Belém rumo ao Oriente.
94 - 104: O Velho do Restelo.

CANTO V

1 - 36: O Gama conta ao rei de Melinde a viagem até ao cabo das tormentas. Partida para o Equador. Fogo de Santelmo. A tromba Marítima. Fernão Veloso na Baía de Santa Helena.
37 - 60: O gigante Adamastor.
61 - 91: O Gama acaba o relato da viagem até Melinde. O escorbuto. Elogio à coragem dos Portugueses.
92 - 100: Desânimo do poeta face ao desprezo dos Portugueses pelas Letras, e em especial pela poesia. 

CANTO VI 

1 - 6: O povo de Melinde festeja os Portugueses. Partida das naus para os mares da Índia.
7 - 37: Baco fala com Neptuno. Concílio dos Deuses Marinhos. Discurso de Baco. Éolo é incitado a soltar os ventos para impedir a viagem dos Portugueses.
38 - 69: A bordo, os Portugueses contam histórias para passar o tempo. Fernão Veloso conta o episódio dos Doze de Inglaterra.
70 - 84: A tempestade.
85 - 91: Vénus e as ninfas abrandam os ventos.
92 - 94: As naus chegam a Calecute. O Gama agradece de novo a Deus.
95 - 99: Camões medita sobre o valor da glória. 

CANTO VII 

1 - 14: A Armada está na barra de Calecute. Camões elogia o espírito aventureiro dos Portugueses, comparando-os com outros povos que nada fazem. 
15 - 22: Entrada em Calecute. Descrição da Índia.
23 - 27: Contacto com o povo desconhecido.
28 - 41: Monçaide descreve o Malabar.
42 - 56: O Gama desembarca e o Catual leva os Portugueses até junto do Samorim.
57 - 66: O Gama visita o Samorim. Acolhimento dos Portugueses.
66 - 77: Paulo da Gama recebe o catual a bordo da Armada.
78 - 87: Camões faz nova invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego, e queixa-se da sua infelicidade.

CANTO VIII 

1 - 43: Paulo da Gama descreve ao Catual as figuras das bandeiras das naus.
44 - 56: O Catual regressa a terra. Baco intervém de novo, pondo os indianos contra os Portugueses.
57 - 78: O Gama pede para ser recebido pelo Samorim. Este acredita no discurso do capitão e deixa que regresse à sua nau.
79 - 95: O Catual tenta deter Vasco da Gama em terra, mas como tem medo do Samorim, liberta-o a troco de mercadorias. O capitão regressa à nau e ficam dois feitores em terra.
96 - 99: Reflexões do poeta sobre o poder do ouro. 

CANTO IX 

1 - 17: Em Calecute espera-se uma armada Muçulmana para destruir a Portuguesa. Monçaide avisa o Gama, que levanta âncora, aprisionando os mercadores indianos como castigo.Os mercadores são trocados pelos feitores, e a Armada volta a Portugal.
18 - 50: Vénus decide recompensar os Portugueses.
51 - 92: Ilha dos Amores. Descrição e acolhimento das Ninfas aos Portugueses. Tétis recebe o Gama no palácio.
93 - 95: Exortação de Camões aos que sonham com a imortalidade. 


CANTO X 

1 - 143: Ilha dos Amores. Profecia dos feitos dos Portugueses no Oriente feita por uma Ninfa. Invocação a Calíope. A Ninfa continua as profecias. Tétis indica ao Gama os locais onde os Portugueses serão célebres. Os marinheiros despedem-se e partem.
144: Chegada a Portugal.
145 - 156: O poeta lamenta-se e promete a D. Sebastião cantar as futuras glórias e conclui assim a sua dedicatória, encerrando com ela a obra.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os Lusíadas

A origem da palavra Lusíadas – Conta a lenda que Luso, filho de Baco, deus do vinho, fundou,
no extremo ocidental da Península Ibérica, um reino, ao qual deu um nome derivado do seu:
Lusitânia.
Na realidade, quando os Romanos se estabeleceram na Península Ibérica, por uma questão
administrativa, dividiram-na em três províncias, conservando o nome Lusitânia para toda a
região compreendida a sul do Rio Douro.
No século XVI, os escritores nacionais começaram a usar a palavra Lusitanos como sinónimo de
Portugueses, o que foi aproveitado por Camões.
Foi com base nisso que o poeta criou uma palavra nova que iria dar nome à sua obra épica: Os
Lusíadas, ou seja, o Povo de Luso – os Portugueses.

A Proposição aponta para os quatro planos do poema:
 1. O Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da
Tapobrana...";
 2. O Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando
/ A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";
3. O Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte
obedeceram...";
 4. O Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".



Invocação (C. I, 4-5)
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.

5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,

Se tão sublime preço cabe em verso.

Invocar significa apelar, pedir, suplicar.
Na Invocação, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime:

“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,”
Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estrutura do texto:

E vós, Tágides minhas, (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)


O poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade do assunto requerem; o " som alto e sublimado ", exigido pelo " novo engenho ardente " que as ninfas colocaram nele. Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao longo das duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança.

POESIA LÍRICA
POESIA ÉPICA
verso humilde
agreste avena
frauta ruda

novo engenho ardente
som alto e sublimado
estilo grandíloco e corrente
fúria grande e sonorosa
tuba canora e belicosa

Dedicatória

A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’Os 
Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.
Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança
da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império.
D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei antes do domínio
espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha
de Alcácer Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu
de uma lenda e que tem povoado o imaginário coletivo do nosso povo, ao longo dos séculos.

 Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso
recorre a uma linguagem argumentativa, sendo a função de linguagem predominante a apelativa.
O poeta recorre a numerosos vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do modo imperativo. Há
quem considere que o discurso da Dedicatória segue a estrutura própria do género oratório.
O poeta chama constantemente a atenção do seu destinatário, D. Sebastião, para o que o poema vai celebrar.









domingo, 19 de janeiro de 2014

                Soneto Já Antigo

    Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
    dizer aos meus amigos aí de Londres,
    embora não o sintas, que tu escondes
    a grande dor da minha morte.  Irás de

    Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...
    que eu nada que tu digas acredito),
    contar àquele pobre rapazito
    que me deu tantas horas tão felizes,


    Embora não o saibas, que morri...
    mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
    nada se importará... Depois vai dar


    a notícia a essa estranha Cecily
    que acreditava que eu seria grande...
    Raios partam a vida e quem lá ande!

                                Álvaro de Campos

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Atos de Fala

Qualquer frase, ao ser enunciada, remete para a realização de três actos: um ato locutório, um ato ilocutório e um ato perlocutório.

O ato locutório corresponde ao acto de pronunciação de palavras e frases que veiculam determinado conteúdo proposicional / mensagem.


Ato Locutório Comportamento verbal governado por regras que permitem a realização da intenção comunicativa. Corresponde ao acto de pronunciação de palavras e frases que veiculam determinado conteúdo proposicional / mensagem.


Atos ilocutórios Produz-se um enunciado e realiza-se uma acção.


Categorias

Objetivos

Marcas Linguísticas

Exemplos

Assertivos

· Traduzem uma posição, uma verdade assumida pelo locutor.

· Verbos declarativos (exs.: afirmar, concluir, declarar, dizer, aceitar, etc.);

· Verbos assertivos (exs.: aceitar, admitir, achar, acreditar, considerar, confessar, discordar, negar, responder, entender, etc.);

· Expressões verbais modalizadas (exs.: considerar / achar necessário, possível, certo; colocar a hipótese de, etc.);

·   Asserções simples (afirmativas/negativas).

· O Eusébio foi um grande futebolista.

· Acredito que o Benfica será campeão.

















Diretivos










· Revelam a intenção de o locutor (através de ordens, sugestões, pedidos, …) conduzir o interlocutor a agir segundo o que lhe é dito, isto é, à realização de uma acção.

· Expressão da ordem, pedido, conselho, aviso, sugestão, instrução através de:

Ø frases de tipo imperativo;

Ø verbos diretivos (exs.: avisar, exigir, implorar, mandar, ordenar, proibir, etc.);

· Expressão de pedidos de informação/confirmação com base em:

Ø frases simples interrogativas;

Øfrases complexas interrogativas dominadas por verbos de inquirição (exs.: perguntar, interrogar, inquirir, investigar, etc.);

Øfrases interrogativas negativas com valor positivo.

· Expressões volitivas do tipo «querer que + verbo”.

· Assine aqui, por favor.

· Não é verdade que demoraste três horas a fazer o teste?


















Expressivos

· Exprimem sentimentos, emoções, estados de espírito do locutor face ao que enuncia.

· Verbos expressivos (exs.: agradecer, compadecer-se, congratular-se, deplorar, desculpar-se, deplorar, felicitar. lamentar, repudiar, etc.);

· Verbos modalizados por advérbios (exs.: achar bem/mal, gostar muito/pouco, etc.);

· Frases de tipo exclamativo.

· Agradeço a tua lembrança.

· Gosto muito de ter aulas de Português.









Compromissivos

·  Traduzem o compromisso de o locutor realizar uma acção futura.

· Frases simples marcadas pelo futuro do indicativo ou outro do mesmo valor;

· Verbos compromissivos (exs.: comprometer-se, garantir, jurar, prometer, tencionar, etc.);

· Fórmulas de despedida que dêem lugar a compromissos futuros;

· Frases complexas, com lógica do tipo condição-consequência, em que a última dá lugar a comprometimento do locutor.

· Logo falto à aula.

· Se não trouxeres o documento assinado pela tua mãe, não irás à visita.









Declarativos

· Expressam o poder (reconhecido institucionalmente) de o locutor criar / transformar uma realidade pelo próprio acto de dizer (actos oficiais: casamentos, reuniões, julgamentos).

· Frases proferidas por locutores institucional ou individualmente reconhecidos com poder, autoridade;

·Verbos declarativos/performativos: declarar, renunciar, nomear, baptizar abrir, encerrar, terminar.

· Os serviços encerram por hoje.









Declarativos assertivos

· Pretendem exprimir o que deve ser considerado como uma verdade a seguir, por o locutor possuir uma autoridade específica que é reconhecida pelo interlocutor.

· Expressões modalizadas: ser fundamental,considerar importante,considerar fundamental,considerar imprescindível.

· É essencial que o senhor traga todos os comprovativos.

· É a resposta da Teresa que está correta.




Ato perlocutório - Refere-se aos efeitos produzidos junto do interlocutor pela realização de determinado acto ilocutório. Podem considerar-se actos perlocutórios «convencer», «persuadir», «ajudar», «atrapalhar» ou «assustar».



Atos ilocutórios indiretosO locutor quer dizer algo diferente daquilo que expressa em sentido literal.


1.Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Ámen - disse o sacerdote. (declarativo)
2.Daqui a uma semana entrego os testes. (compromissivo)
3.Aconselho-o a deixar de fumar ou terá cancro dos pulmões dentro de 3 anos - disse o médico. (declarativo assertivo)
4.Não faças isso, porque faz mal à saúde!(diretivo)
5.Hoje, sinto-me feliz. (expressivo)
6.Hoje, vou ao cinema. (assertivo)
7.Não achas que está muito calor aqui, com as janelas todas fechadas? (diretivo/indireto)


A Morte de Álvaro de Campos

Super-centenário era já, no entanto ao contrário dos outros que o consideravam um caso de notável longevidade e, até, um abençoado. O próprio homem considerava-se antes alguém esquecido pela própria Morte. Apesar da desilusão com a civilização mecânica, Campos manteve-se fiel à civilização digital pois, pela primeira vez, o Homem finalmente estava próximo de ele próprio se tornar uma máquina. E, talvez, sendo as máquinas perfeitas, o Homem se tornasse ele próprio perfeito.
No entanto mesmo os melhores computadores, feitos à imagem do Homem eram também eles de certa forma imprevisíveis e imperfeitos. E apesar de a rede global ter tornado as viagens substancialmente mais baratas, a solidão e nostalgia permaneciam, o tempo já passado ia acumulando e a infância já estava de tal modo distante que parecia antes ter sido vivida por uma outra pessoa, sendo o actual Álvaro um outro indivíduo que possui, por alguma arte, memórias de outra pessoa.
Mas quem será este “novo” Álvaro? De certo, alguém frustrado de estar frustrado… De estar frustrado, os anos são tantos que já perdeu memória de quem é realmente, ou talvez nunca o soube.
A filosofia que aprendera com o seu antigo mestre já pouco se aplicava neste novo Mundo. Uma foto ou um filme que antes eram expressões das sensações puras, a captação pura do real eram agora facilmente manipuláveis.
Tal como um qualquer velho, Campos tinha adoptado uma rotina que mantinha religiosamente.
Efectuava um percurso pela cidade de Lisboa, sempre a pé, todos os dias. O propósito desta caminhada era mais para o próprio confirmar que ainda estava vivo e que as suas pernas super-centenárias ainda funcionavam do que pelo exercício físico. No entanto, com o passar dos anos, este percurso foi alterando com a mudança da morfologia da própria Lisboa. Quando a idade é tão avançada torna-se claro que a cidade é também um ser vivo em constante mudança. Essa mudança tornou-se tão acentuada que a rota diária tinha de ser alterada de tempos a tempos. As estradas deixaram de estar povoadas de animais de transporte e passaram a estar ocupadas de animais que dificultam o transporte.
E enquanto as barulhentas máquinas deusas da locomoção terrestre se poderiam afigurar ao sonho de Campos, a sujidade destas e as bestas que as conduziam transformavam-nas em algo detestável.
À falta de pragas devastadoras e guerras perto de casa, a Morte parecia também difícil de encontrar casualmente e suicídio consciente parecia fora de questão, as memórias da infância mantinham-no são. Mas esta ignóbil vida estava deveras a chegar ao fim.
Era fim de tarde já em Lisboa quando Álvaro decidiu sair das ruas, farto de tão asnática população. É inacreditável que apesar de tantas décadas a cultura Chico-espertista portuguesa continua em demasiada boa forma. Não se sabe se foi esta cultura que pôs o povo português no topo da cadeia alimentar no tempo dos Descobrimentos, mas é certo que tentar ultrapassar em filas usando um vastíssimo arsenal de manobras puníveis por lei/ perigosas é, basicamente, cultural. Cultural é também a veneração aos programas em horário nobre. Apesar da ascensão da inexorável Internet, aqueles das classes mais baixas não dispensam ainda a caixa da cultura da treta. É interessante observar, e Campos como ancião que é o verifica ainda com mais clareza, como a televisão passou de besta a bestial. O que inicialmente era o equivalente socialmente aceitável a fumar marijuana, devido aos efeitos nefastos que provocaria no cérebro tornou-se na maior fonte de cultura da população. Campos não dispensava ver toda a variedade de programas existentes. Um dos elementos mais caracterizadores de um povo são os programas que vêem. E o amor do português ao espectáculo e ao exagerado está bem presente. O português é o tipo de indivíduo que consegue fazer de um incêndio florestal espectáculo cultural. Os programas mais vistos reflectiam toda esta veneração ao sensacionalismo, que apesar da semelhante fonética, é bastante diferente do sensacionismo que Campos tanto gostava nos seus poemas. No entanto, apesar de tudo deve-se dar crédito ao povo português por… o pensamento do velho heterónimo interrompeu-se por aqui quando uma parte do jantar se decidiu vingar. Tratava-se de uma espinha do bacalhau cozido preso na garganta de Campos. Parecia que o próprio peixe já não se sentia digno de ser engolido por alguém de nacionalidade tão reles.
Quando recuperou os sentidos, apenas ouvia o beep pausado da máquina de suporte de vida. Por algum tipo de consequência que só alguém entendido em saúde saberia explicar, a vingativa espinha tinha conseguido pôr o velho poeta em estado crítico. E foi, nesta deprimente condição, que Campos percebeu que finalmente teria atingido o seu sonho: ser um com uma máquina. Infelizmente para ele, este, outrora grande sonho era agora um pesadelo: as máquinas apesar de parecerem grandiosas, são na verdade frágeis, dependentes do Homem e monótonas nas suas acções. As máquinas afiguravam-se mais a cães do que a deuses, e mesmo o melhor amigo do Homem consegue, por vezes, surpreender e adoptar comportamentos inesperados, a máquina nunca foge ao que o seu programador idealizou.
Esta última desilusão acabou com o último sonho de Campos. Porque os sonhos, para se chamarem sonhos, têm um carácter de certa intangibilidade que os tornam algo brilhante, fantástico, maravilhoso e o último objectivo na vida. No entanto quando, por obra da vontade humana, este objectivo perde a sua intangibilidade depressa estes sonhos se mostram como algo bastante terreno e até aborrecido. É nesta fase que se instala a desilusão da qual Álvaro de Campos sofria.
Por, também, consequências médicas, cuja natureza é de difícil explicação, aliás a explicação é até bastante simples mas algo embaraçosa e que deixou os médicos responsáveis prontos a enterrarem-se até ao outro lado do Planeta, pode-se dizer que a partir deste acontecimento o maior uso das licenças médicas de todos os responsáveis seria combustível, se o embaraço e a vergonha fossem comestíveis estava resolvida a crise de falta de alimento em África. Acontece que o pobre desiludido homem sofreu danos cerebrais, todas as memórias de longo prazo, leia-se as mais antigas, tinham sido apagadas. Sem o reconforto das memórias de infância, a última solução seria o suicídio. Acto este que tantos anos de evolução de política social teriam tornado dignificado sob a forma de eutanásia. Enfim, algo de útil que a modernidade trouxe, para além do controlo remoto e do bacalhau embalado em vácuo.
No dia seguinte todos os media noticiavam o mesmo: “morreu um dos maiores poetas de sempre e o Homem mais velho de Portugal”, em seguida mostravam slideshows com antigas fotos de Álvaro enquanto uma voz off lia o seu artigo da Wikipedia. Imediatamente, adivinhando que esta morte estava para breve um escritor de pouca imaginação finalmente publicava uma biografia completa do falecido, enquanto outro publicava um “Álvaro de Campos como nunca antes visto” repleto de escândalos sexuais e outras coisas que agradariam ao público. A velha casa no centro de Lisboa onde vivia foi imediatamente comprada e transformada em museu. Tudo valia para monetizar a custo do defunto, era, afinal, tudo em prol da preservação da Cultura. No entanto, para a perspectiva do povo algo foi bom: finalmente toda a populaça que via televisão depois do trabalho e cuja cultura se resumia a jornais desportivos e o que é que estivesse para ler na sala de espera do dentista sabia quem era Álvaro de Campos.
Era enfim, uma completa celebridade.



André Lopes