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terça-feira, 1 de outubro de 2013


Paulismo

O Paulismo, com raízes no Simbolismo e no Decadentismo, caracteriza-se por traços como: o desejo de transmitir impressões vagas e difusas, o recurso frequente à sinestesia, aos pontos de suspensão, à construção tendencialmente nominal da frase ou sintaticamente insólita, à maiusculação de termos, à profusão metafórica, uma tendência para a evocação de paisagens esfumadas e crepusculares, para o esteticismo, para a expressão do tédio, da melancolia e do absurdo.

 

             IMPRESSÕES DO CREPÚSCULO     29-03-1913

Pauis de roçarem ânsias pela minh' alma em ouro...

Dobre longínquo de Outros Sinos... Empalidece o louro

Trigo na cinza do poente... Corre um frio carnal por minh' alma...

Tão sempre a mesma, a Hora!... Balouçar de cimos de palma!

Silêncio que as folhas fitam em nós... Outono delgado

Oh que mudo grito de ânsia põe garras na Hora!

Que pasmo de mim anseia por outra coisa que o que chora!

Estendo as mãos para além, mas ao estendê-las já vejo

Que não é aquilo que quero aquilo que desejo...

Címbalos de Imperfeição... Ó tão antiguidade

A Hora expulsa de si-Tempo! Onda de recuo que invade

O meu abandonar-se a mim próprio até desfalecer,

E recordar tanto o Eu presente que me sinto esquecer!...

Fluido de auréola, transparente de Foi, oco de ter-se.

O Mistério sabe-me a eu ser outro... Luar sobre o não conter-se...

A sentinela é hirta - a lança que finca no chão

É mais alta do que ela... Para que é tudo isto.... Dia chão...

Trepadeiras de despropósitos lambendo de Hora os Aléns...

Horizontes fechando os olhos ao espaço em que são elos de ferro...

Fanfarras de ópios de silêncios futuros... Longes trens...

Portões vistos longe... através de árvores... tão de ferro!




 

Ideia vaga da ansiedade, tristeza, provocada por uma paragem ou estagnação. O vocabulário e as imagens que sugerem a paragem e a estagnação. A ânsia pelo que se não tem; o distante, o indefinível, o inatingível- o Mistério. Consciência da ilusão da busca do Mistério.

 
 

Do paulismo derivou ainda outra corrente, o interseccionismo, cuja melhor expressão foi a Chuva Oblíqua, corrente que resulta de uma adaptação do paulismo a novas estéticas como o futurismo e o cubismo. Com esta corrente o poeta pretende exprimir a complexidade e a intersecção das sensações percepcionadas, aproximando-se, então, do cubismo que exprime a interpenetração e sobreposição dos planos dos objectos.

 

 

Chuva Oblíqua  8-3-1914

 

I

 

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado...

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...

O vulto do cais é a estrada nítida e calma

Que se levanta e se ergue como um muro,

E os navios passam por dentro dos troncos das árvores

Com uma horizontalidade vertical,

E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...

Súbito toda a água do mar do porto é transparente

e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,

Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,

E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa

Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem

E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,

E passa para o outro lado da minha alma... (…)

 



 

Uma chuva que é oblíqua, é uma chuva inclinada e que incomoda por não ter como fugir dela; ela atinge as pessoas por mais que tentem esquivar-se. Nesta chuva há uma intersecção, um cruzamento de elementos bons e maus, desejáveis e indesejáveis, do real com o imaginário; elementos estes, que aos poucos vão transpassando pela cabeça e pelo imaginário daqueles que são atingidos por tal chuva.

 

 

 

 

Mais tarde surgia o sensacionismo, corrente que faz a apologia da sensação como a única realidade da vida corrente que Fernando Pessoa considera cosmopolita e universalista e que corresponde a uma arte sem regras.

 

 

Numa carta a um editor inglês, Fernando Pessoa define da seguinte forma a atitude central do sensacionismo:

 

1- A única realidade da vida é a sensação. A única realidade em arte é a consciência da sensação.

 

2- Não há filosofia, ética ou estética, mesmo na arte, seja qual for a parcela que delas haja na vida. Na arte existem apenas sensações e a consciência que dela temos.[...]

 

3- A arte, na sua definição plena, é a expressão harmónica da nossa consciência das sensações, ou seja, as nossas sensações devem ser expressas de tal modo que criem um objecto que seja uma sensação para os outros. [...]

 

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